A verdade finalmente vem à tona: Thiaroye 44, um apelo à reconciliação e à justiça

Nas brumas do passado, Thiaroye, localizada nos subúrbios de Dakar, ainda carrega as cicatrizes de um trágico episódio ocorrido em 1º de dezembro de 1944. Naquele dia, fuzileiros africanos, retornando da França após serem libertados dos campos de prisioneiros alemães, foram executados friamente. Oficialmente eram 35, mas segundo muitos historiadores o número era dez vezes maior. A sua única culpa foi ter manifestado o seu pedido legítimo para receber o seu salário. Após 80 longos anos de silêncio, o Estado francês está finalmente a iniciar um processo de reconhecimento e reparação.

A comovente história de Biram Senghor espera há décadas pelo reconhecimento oficial do sacrifício de seu pai, um dos mártires de Thiaroye. Aos 86 anos, ele finalmente soube que seu pai, M’Bap Senghor, foi um dos seis fuzileiros que receberam a menção honrosa de “Morte pela França”. Este ato, emitido discretamente pelo Gabinete Nacional de Combatentes e Vítimas de Guerra, levanta questões sobre a posse de arquivos históricos pelo Ministério das Forças Armadas. Documentos comprometedores continuariam inacessíveis, reforçando a necessidade premente de abrir esses arquivos à luz do dia para que a verdade finalmente venha à tona.

O reconhecimento dos seis soldados é uma lufada de ar fresco, mas continua a ser insuficiente para acalmar as feridas abertas de Thiaroye. O número real de vítimas, provavelmente muito superior ao anunciado oficialmente, ainda não foi estabelecido. A busca por justiça e reparação pelos atos perpetrados em Thiaroye continua incansavelmente. Historiadores e familiares das vítimas exigem que toda a luz seja lançada sobre esta página negra da história franco-africana.

A reacção veemente do primeiro-ministro senegalês, Ousmane Sonko, contrasta com a discrição dos gestos de reconhecimento. Lembra-nos fortemente que a França já não pode ditar unilateralmente os termos desta memória dolorosa. O apelo à revisão das práticas e à consciência colectiva ressoa como um grito de dignidade e justiça para as vítimas de Thiaroye.

Para além deste gesto simbólico, é imperativo reconhecer todos os combatentes africanos que tombaram ao serviço da França. Este primeiro passo deve ser seguido de medidas concretas para que a França e as suas antigas colónias possam finalmente sarar as suas feridas históricas e olhar em conjunto para um futuro comum. As relações franco-africanas são marcadas por um legado pesado que, se não for resolvido, poderá alimentar ressentimentos e divisões prejudiciais para todos.

Neste caminho para a reconciliação, o reconhecimento das falhas passadas pode ser apenas um primeiro passo. É hora de a França, consciente das grandes questões que regem as relações com as suas ex-colónias, demonstrar responsabilidade e compromisso.. As reparações financeiras, tal como o reconhecimento dos factos, são questões cruciais para a construção de um futuro comum baseado na verdade, na justiça e no respeito mútuo. Thiaroye 44, símbolo de uma memória há muito escondida, deve tornar-se o catalisador para uma nova compreensão e uma reconciliação sincera entre a França e a África.

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