A exploração dos fundos marinhos ao largo do continente africano está gradualmente a revelar um tesouro pouco conhecido e fascinante: o património histórico submerso. Entre naufrágios de barcos com múltiplas histórias, aldeias pré-históricas submersas e objetos do quotidiano que testemunham um passado distante, cada vez mais arqueólogos e interessados no património estão a interessar-se por estas riquezas submersas.
Em Cabo Verde, perto da primeira cidade colonial, Cidade Velha, existe um local excepcional onde se concentram olarias, cerâmicas e âncoras antigas. O mergulho revela gradativamente esses tesouros enterrados, oferecendo aos arqueólogos, como Cezar Mahumane, que veio especialmente de Moçambique, a oportunidade de ampliar seus conhecimentos e fazer comparações enriquecedoras entre descobertas de diferentes países.
De um extremo ao outro do continente, outras iniciativas semelhantes estão surgindo. De Moçambique ao Senegal e à Gâmbia, os arqueólogos subaquáticos exploram locais que vão desde a pré-história até períodos mais recentes, como as duas guerras mundiais. Musa Foon, do Centro Nacional de Artes e Cultura da Gâmbia, destaca a importância desta investigação ao destacar naufrágios e artefactos que permaneceram desconhecidos durante séculos.
A diversidade de descobertas subaquáticas em África testemunha uma história rica e complexa, que vai muito além dos simples restos de navios. João Paulo Oliveira e Costa, historiador português que lidera a cátedra UNESCO sobre património oceânico, sublinha a importância da arqueologia subaquática para recuar mais de 10 mil anos de história. Desde aldeias neolíticas submersas no Mediterrâneo até cidades submersas no Mar Negro, cada descoberta traz a sua parcela de conhecimento sobre civilizações antigas.
A convenção da UNESCO de 2001 incentiva a documentação e a protecção do património cultural subaquático, destacando a importância de preservar estes tesouros enterrados para as gerações futuras. A arqueologia subaquática em África revela assim uma parte pouco conhecida, mas ainda assim essencial, da nossa história comum, contribuindo para enriquecer a nossa compreensão do passado e para preservar a memória de civilizações desaparecidas.