O Irão atravessa um período tumultuoso marcado por uma viragem histórica com a realização de eleições presidenciais e uma taxa de abstenção recorde. A baixa taxa de participação levanta questões sobre o apoio dos cidadãos ao sistema político em vigor. O Aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irão, sublinhou que esta falta de compromisso não reflecte necessariamente a oposição ao actual regime.
Com mais de 60% dos potenciais eleitores optando pela abstenção, esta é a taxa mais baixa da história da República Islâmica. Esta situação levou a uma segunda volta para eleger um sucessor do falecido Presidente Ebrahim Raisi, que morreu num acidente de helicóptero em Maio.
A lacuna está a surgir entre os dois principais adversários na segunda volta: de um lado, Saeed Jalili, antigo negociador nuclear e figura conservadora, e do outro, Masoud Pezeshkian, reformador e cirurgião cardíaco. Pezeshkian, apoiado por uma base moderada, terá de mobilizar-se amplamente para vencer Jalili, cuja notoriedade é parcialmente estabelecida pela sua intransigência durante as negociações internacionais sobre o programa nuclear iraniano.
As tensões políticas e sociais também se fazem sentir nos comentários dos potenciais eleitores. Alguns manifestam a sua desilusão com as promessas não cumpridas dos presidentes anteriores, enquanto outros apontam a indiferença das autoridades face aos problemas económicos enfrentados pela população. As questões económicas e sociais têm precedência sobre o envolvimento político, reflectindo uma profunda divisão entre os cidadãos e as elites dominantes.
A crise económica, simbolizada pela queda vertiginosa da moeda nacional e pelas persistentes tensões sociais que se seguiram a acontecimentos trágicos, contribui para reforçar o sentimento de desconfiança em relação ao sistema em vigor. Os eleitores não se reconhecem num esquema político considerado falho e desligado da sua realidade.
A segunda volta das eleições presidenciais parece ser um teste crucial à legitimidade do novo presidente que está por vir. O tabu da abstenção e do desinteresse político é quebrado, deixando espaço para um questionamento profundo do sistema e dos seus actores. Os desafios que aguardam o próximo chefe de Estado são colossais, exigindo consciência colectiva e um desejo real de transformação para satisfazer as expectativas da população iraniana.
Assim, à medida que a segunda volta se aproxima, o Irão encontra-se numa encruzilhada histórica onde todas as vozes contarão para moldar o futuro do país. A questão ultrapassa as divisões políticas para tocar a própria essência de uma nação em busca de renovação e justiça social.