Nas reviravoltas do destino, emerge por vezes o percurso excecional de um indivíduo destinado a marcar a História. É o caso do primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, figura central na cena política contemporânea. Filha de mãe visionária e pai agricultor muçulmano, Abiy foi criada num ambiente único, marcado pela diversidade cultural e religiosa da Etiópia.
Desde a mais tenra infância, sua mãe sussurrava em seu ouvido previsões sobre seu destino: o de um líder chamado a reinar sobre seu país. O seu nome, Abiyot, que significa “revolução” em amárico, já parecia prenunciar um destino extraordinário. Esta dualidade entre a herança imperial e o espírito revolucionário moldaria a complexa jornada política de Abiy Ahmed.
O jornalista Tom Gardner, através do seu livro “O Projeto Abiy: Deus, Poder e Guerra na Nova Etiópia”, revela os bastidores da tumultuada trajetória do primeiro-ministro etíope. Das reformas ousadas à consolidação do poder, da paz recém-conquistada com a Eritreia ao recrudescimento de conflitos internos, Abiy encarna esta dualidade intrigante entre a visão messiânica e a realpolitik implacável.
Imerso num contexto familiar modesto em Beshasha, Abiy foi capaz de transformar as suas origens modestas numa força interior inabalável. Dividido entre o amor incondicional pela mãe Tezeta e a complexa relação com um pai ausente, Abiy tira a sua determinação da sua herança materna, fonte de autoconfiança inabalável.
A sua carreira no exército e nos serviços de inteligência demonstra uma ascensão meteórica, marcada por um aguçado sentido político e de relações estratégicas. Das trincheiras da guerra contra a Eritreia ao domínio dos mistérios do poder dentro do INSA, Abiy foi capaz de forjar a sua personalidade através de provações e alianças forjadas nas sombras.
A marca espiritual do Pentecostes e do movimento evangélico acrescenta uma dimensão mística à trajetória de Abiy, mesclando crenças pessoais e compromissos políticos. Esta busca pela transcendência faz parte de uma paisagem religiosa fervilhante, onde tradições ancestrais e influências contemporâneas se combinam para moldar a identidade espiritual do Primeiro-Ministro etíope.
Em suma, Abiy Ahmed revela-se como uma figura complexa e enigmática, guiada alternadamente pela fé na sua missão e pelos imperativos do poder. Entre reformas radicais e excessos autoritários, entre a paz redescoberta e os conflitos internos, o seu destino permanece inscrito nas reviravoltas da História em formação, testemunho de uma Etiópia em busca de identidade e renovação.