Instabilidade crescente na África Central: um apelo à acção internacional

Accueil » Instabilidade crescente na África Central: um apelo à acção internacional

A situação na região Centro-Africana tornou-se cada vez mais volátil nos últimos tempos, com um aumento nas actividades de grupos armados na República Centro-Africana, representando uma séria ameaça à segurança regional. Especialistas das Nações Unidas deram recentemente o alarme num novo relatório, destacando o aumento das actividades de grupos armados e as repercussões do conflito no vizinho Sudão.

O relatório dos peritos regista bombardeamentos aéreos levados a cabo pelo exército sudanês ao longo das fronteiras, bem como o recrutamento de combatentes pelas Forças de Apoio Rápido, uma milícia paramilitar rival, de grupos armados na República Centro-Africana. Esta escalada de tensões é preocupante, especialmente porque o conflito no Sudão se espalhou para outras regiões, nomeadamente Darfur, que faz fronteira com a região de Vakaga, na República Centro-Africana.

Os números registados pelas Nações Unidas não deixam margem para dúvidas, tendo cerca de 10.700 refugiados sudaneses fugido para a República Centro-Africana até ao final de Março. Todas as semanas, 565 novos refugiados, principalmente mulheres e crianças, chegam ao campo de refugiados de Korsi, na cidade de Birao, no norte do país. Este afluxo maciço de refugiados está a colocar pressão sobre as capacidades de acolhimento e de socorro da região, exacerbando as tensões e a segurança precária.

O conflito no Sudão também perturbou rotas comerciais cruciais que ligam a República Centro-Africana à região de Darfur, tornando as entregas de ajuda humanitária mais lentas e mais caras. Esta instabilidade regional está a pôr em perigo a vida de milhares de pessoas nas regiões de Vakaga e Haute-Kotto, agravando assim a já preocupante crise humanitária nestas áreas.

Apesar da sua riqueza em recursos minerais como ouro e diamantes, a República Centro-Africana continua a ser um dos países mais pobres do mundo. Grupos rebeldes operam impunemente no seu território há uma década, dificultando os esforços de exploração mineral por parte de empresas estrangeiras. O país tem sido assolado por conflitos desde 2013, quando rebeldes predominantemente muçulmanos tomaram o poder, provocando confrontos com milícias predominantemente cristãs.

Apesar da assinatura de um acordo de paz em 2019, os combates continuam e seis dos catorze grupos armados signatários abandonaram o acordo desde então. O surgimento da Coligação dos Patriotas pela Mudança, uma aliança de grupos rebeldes alinhados com Bozize, contribuiu para a fragmentação de algumas facções rebeldes, complicando ainda mais a resolução do conflito.

A intervenção dos mercenários do grupo Wagner e de instrutores militares russos a pedido do governo centro-africano levanta preocupações adicionais. Um incidente recente que resultou na morte de três instrutores russos na sequência de um ataque destaca o aumento dos riscos associados à presença de forças estrangeiras na região.

Ao mesmo tempo, as actividades do grupo armado Exército de Resistência do Senhor também foram perturbadas pelo conflito no Sudão. Liderado por Joseph Kony, um dos homens mais procurados do mundo, o LRA teve que se mudar para uma área montanhosa na província de Haute-Kotto, criando novas oportunidades para os membros do grupo escaparem.

Finalmente, o Tribunal Penal Internacional anunciou recentemente que apresentará provas para apoiar as acusações de crimes de guerra e crimes contra a humanidade apresentadas contra Joseph Kony na sua primeira audiência na ausência do líder rebelde. Além disso, o filho de Kony, Ali Kony, sujeito a sanções da ONU, terá desertado e encontra-se agora no Uganda.

Globalmente, a situação na África Central continua preocupante, com dinâmicas complexas e múltiplos desafios que exigem uma resposta internacional coordenada para restaurar a paz e a estabilidade na região. A necessidade de uma acção urgente e concertada para acabar com a violência e os abusos perpetrados por grupos armados continua a ser vital para garantir a segurança e o bem-estar das populações afectadas.

Leave a Reply

Your email address will not be published.