A influência nociva das redes sociais nas eleições africanas

A rápida evolução da tecnologia revolucionou significativamente as práticas políticas em África, especialmente durante os períodos eleitorais. No passado, as campanhas políticas eram predominantemente conduzidas através de comícios nacionais, extensa cobertura mediática e a distribuição de cartazes e faixas. Essas práticas eram estritamente regulamentadas, e os meios de comunicação, as autoridades municipais e as agências eleitorais independentes podiam monitorar o discurso político, bem como legislar para coibir os atos dos maus atores que buscavam manipular e desinformar seu eleitorado. Os candidatos perdedores estavam limitados a esses canais para se comunicar com seus apoiadores, reduzindo as oportunidades de desacreditar os resultados eleitorais e disseminar desinformação após as eleições.

No entanto, a ascensão das redes sociais introduziu um novo paradigma nas eleições africanas, em que os candidatos derrotados utilizam as plataformas sociais para questionar os resultados eleitorais sem apresentar evidências substanciais de suposta fraude. Políticos e partidos políticos estão cada vez mais recorrendo ao WhatsApp, Telegram, Facebook, TikTok e outras plataformas para influenciar o discurso público. Eles utilizam esses canais para prever o comportamento dos eleitores, desenvolver estratégias de campanha, alcançar o eleitorado, reforçar as narrativas partidárias e promover a socialização política. Com o amplo acesso à conectividade Wi-Fi e aos planos de dados móveis, a maioria dos cidadãos, principalmente os millennials e a Geração Z, está constantemente conectada, verificando regularmente suas redes sociais e recebendo notificações em tempo real.

Embora as redes sociais ofereçam benefícios mútuos para políticos e cidadãos, os danos potenciais que a comunicação de massa não regulamentada pode causar às democracias em funcionamento não devem ser subestimados.

Em um estudo recente intitulado “Social Media, Party Narratives and Partisan Opinions – Zimbabwe’s Post-2018 Elections,” foi demonstrado como candidatos derrotados desafiaram a veracidade dos resultados das eleições de 2018 no Zimbábue e alegações de manipulação de resultados no Facebook e no Twitter, apesar das evidências esmagadoras em contrário. Esses candidatos rotineiramente rejeitavam provas factuais que contradiziam sua narrativa de que “a fraude eleitoral causou sua derrota”. Situações semelhantes foram observadas na Zâmbia em 2016, Quênia em 2017, Nigéria em 2019 e Tanzânia em 2020. Esse padrão também se expandiu para além da África, como visto nos Estados Unidos em 2020 e no Brasil em 2022.

Embora as eleições na maioria dos países africanos estejam longe de serem perfeitas, um candidato perdedor que espalha teorias da conspiração para aliviar a derrota agrava uma situação já volátil, enfraquecendo democracias emergentes e frágeis.

Os cidadãos africanos precisam repensar a influência das redes sociais em seu psicológico. A propagação de rumores de fraude eleitoral nas redes sociais não é devidamente desencorajada e eleições contestadas e deficiências democráticas alimentam a desconfiança pública no sistema democrático. Ademais, a ausência de controles no ambiente intrapartidário permite a disseminação desenfreada de narrativas falsas. Esse estudo também revelou que, embora o impacto das falsas narrativas diminua ao longo do tempo, elas contribuem para instigar protestos violentos imediatamente após uma derrota eleitoral.

Diante desse cenário em evolução, urge uma abordagem continental para mitigar esse fenômeno. Órgãos regionais e a União Africana devem encontrar formas de desencorajar candidatos derrotados a espalharem alegações infundadas nas redes sociais. Com a proximidade das eleições em muitos países em 2024, é necessário reforçar a legislação contra incitação à violência em resposta a resultados eleitorais. Além disso, é imperativo desencorajar os cidadãos de recorrer à violência para solucionar disputas eleitorais.

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