A água, este recurso vital, fonte de vida e prosperidade, tornou-se uma questão crucial para muitas regiões da África do Sul, especialmente nas províncias altamente povoadas de Gauteng, KwaZulu-Natal e Western Cape. Com as eleições gerais a aproximarem-se rapidamente, é inegável que a crise hídrica terá um grande impacto nos padrões de votação e na percepção dos eleitores em relação aos partidos políticos.
Na província de Gauteng, a escassez de água tornou-se o principal obstáculo, levando à escassez e a tensões crescentes entre a população. Da mesma forma, a província de KwaZulu-Natal enfrenta não só problemas de escassez de água, mas também poluição dos seus sistemas fluviais, tornando a situação ainda pior. Quanto ao Cabo Ocidental, a crise hídrica continua a ser um tema quente, ameaçando periodicamente a estabilidade da região.
Assistimos também a um fenómeno preocupante de violência relacionada com a água que irrompe nestas três províncias, realçando a urgência da situação e a necessidade premente de acções concretas para garantir o acesso a água limpa e segura para todos.
O Dr. Anthony Turton, um importante cientista da água, alertou em 2008 sobre os grandes desafios de qualidade da água na África do Sul. Infelizmente, os seus avisos foram ignorados e ele foi mesmo despedido por ousar questionar a gestão dos recursos hídricos do país. As suas previsões, incluindo a capacidade de diluição das fontes de água, padrões de desenvolvimento espacial inadequados e legados históricos de violência, ainda hoje ressoam de forma preocupante.
É agora claro que a maioria dos municípios do país enfrenta uma degradação sem precedentes das suas infra-estruturas hídricas, desde a distribuição de água em massa até ao tratamento de águas residuais. As autoridades locais alertam para a gravidade da situação, mas muitas vezes sem conseguirem agir a tempo de prevenir crises iminentes.
Esta crise hídrica não é apenas técnica, mas também e sobretudo política. Até que as questões de segurança e gestão da água sejam colocadas no topo das prioridades do governo, os problemas persistentes não poderão ser resolvidos de forma sustentável. As exigências dos cidadãos e as consequências políticas destes desafios continuarão a ser inevitáveis para os líderes no poder.
É, portanto, imperativo que qualquer futuro governo faça da segurança hídrica uma preocupação fundamental, ou correrá o risco de enfrentar a ira dos eleitores e ter a sua legitimidade posta em causa. A água, longe de ser uma simples questão técnica, tornou-se um símbolo da capacidade de um governo para satisfazer as necessidades essenciais da sua população..
Já é tempo de a África do Sul, enquanto potência emergente na cena global, tomar medidas concretas para garantir o acesso à água a todos os seus cidadãos. É tempo de as decisões políticas terem precedência sobre os interesses partidários e de a gestão da água ser colocada no centro das políticas nacionais. O futuro do país depende da sua capacidade de garantir um abastecimento de água seguro e estável para todos.