Num mundo onde o conceito de tempo é governado pela rotação da Terra, uma descoberta científica recente destaca um novo fenómeno: o planeta está agora a rodar mais rapidamente do que antes, ameaçando assim a nossa percepção do tempo e o nosso sistema temporal actual.
De acordo com um estudo publicado recentemente na revista Nature, os relógios de todo o mundo poderão ter de subtrair um segundo da sua exibição dentro de alguns anos, criando o que é chamado de “segundo bissexto negativo”. Esta anomalia poderá ocorrer por volta do ano 2029, perturbando a nossa relação com o tempo de formas inesperadas.
Duncan Agnew, geofísico do Scripps Institution of Oceanography da Universidade da Califórnia, em San Diego e principal autor do estudo, considera este um evento importante e sem precedentes. Embora esta aceleração da rotação da Terra não seja de natureza catastrófica, continua a ser um forte sinal do período incomum que vivemos atualmente.
A influência do aquecimento global no derretimento do gelo nos pólos moderou esta aceleração, atrasando assim a adição deste segundo adicional em alguns anos. Dennis McCarthy, diretor de meteorologia do Observatório Naval dos Estados Unidos, prevê um possível “segundo negativo” num futuro próximo, mas o momento exato ainda é incerto.
Esta complexidade temporal, ligada às forças da física, às questões geopolíticas globais, às alterações climáticas e à tecnologia, levanta novas questões. Embora a rotação da Terra dure aproximadamente 24 horas, a variação dessa duração ao longo dos anos revela nuances sutilmente impactantes.
Ao longo dos milênios, a Terra desacelerou gradualmente, principalmente sob a influência das marés causadas pela atração da Lua. No entanto, desde o advento dos relógios atómicos como referência de tempo oficial, há mais de cinquenta anos, esta diferença entre o tempo astronómico e o tempo atómico aumentou.
Para compensar estas diferenças, “segundos bissextos” foram adicionados regularmente desde 1972, até que a desaceleração se transformou em aceleração nos últimos anos. Esta aceleração resulta de movimentos imprevisíveis do núcleo da Terra, amplificados pelo rápido derretimento do gelo polar desde a década de 1990.
A resolução deste dilema temporal depende há muito tempo da adição de segundos bissextos, embora a sua integração em sistemas informáticos modernos tenha causado algumas avarias em 2012. No entanto, empresas tecnológicas como a Google e a Amazon implementaram soluções alternativas para gerir esta transição temporal, ilustrando assim a adaptabilidade da humanidade face a estes desafios aparentemente pequenos mas decisivos.
Assim, para além da anedota científica, esta aceleração da rotação da Terra põe em causa a nossa compreensão do tempo e sublinha a importância da adaptação racional a estes fenómenos naturais em constante evolução.