“O parlamento britânico vota a transferência do sistema de asilo para Ruanda: tensões e divisões dentro do governo”

Imagens de deputados britânicos votando no parlamento

As notícias políticas britânicas foram recentemente marcadas por uma votação crucial na Câmara dos Comuns. O primeiro-ministro conservador Rishi Sunak obteve, não sem dificuldade, a aprovação do seu projecto de lei que visava a externalização do sistema de asilo para o Ruanda.

Esta votação foi o culminar de vários dias de debates acalorados e tensões dentro da maioria conservadora. As demissões de alto nível e as negociações nos bastidores realçaram as divisões dentro do partido no poder. Os moderados temiam uma violação do direito internacional, enquanto os membros mais direitistas queriam ir mais longe.

O projeto de lei foi elaborado num esforço para responder às preocupações do Supremo Tribunal do Reino Unido, que considerou a versão anterior do texto ilegal, incluindo preocupações sobre a segurança dos requerentes de asilo enviados para o Ruanda. De acordo com o projeto, os requerentes de asilo, independentemente da sua origem, teriam os seus processos examinados no Ruanda. Se lhes for concedido asilo, não poderão regressar ao Reino Unido e terão de se estabelecer no país africano.

Durante os debates, muitos deputados conservadores tentaram endurecer o projecto, propondo alterações destinadas a limitar o direito dos migrantes de recorrer da sua expulsão. A demissão de dois vice-presidentes do Partido Conservador, apoiados pelo ex-primeiro-ministro Boris Johnson, aumentou as tensões.

Para salvar o projeto, muito criticado por organizações humanitárias, o governo assinou um novo acordo com Ruanda. Este acordo, que define o Ruanda como um país terceiro seguro, impede o regresso dos migrantes ao seu país de origem. Além disso, algumas disposições da Lei dos Direitos Humanos do Reino Unido não se aplicariam aos despejos, limitando o recurso legal.

No entanto, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) sublinhou que a última versão do projecto não era compatível com o direito internacional.

O projeto de lei deve agora ser aprovado por membros não eleitos da Câmara dos Lordes, que poderão alterá-lo. Se for adoptado antes das eleições legislativas marcadas para o Outono, o Partido Trabalhista, liderado por Keir Starmer, prometeu revogá-lo se chegar ao poder depois de catorze anos na oposição.

Paralelamente a estes desenvolvimentos políticos, o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, reagiu ao acordo bilateral com o Reino Unido durante uma intervenção no Fórum Económico Mundial em Davos. Mencionou nomeadamente o aspecto financeiro do acordo, dizendo que se os requerentes de asilo não viessem, o Ruanda devolveria o dinheiro recebido. O governo britânico já pagou quase 240 milhões de libras ao Ruanda para cobrir os custos iniciais de assentamento dos migrantes e apoiar o desenvolvimento económico do país..

A deslocalização do sistema de asilo para o Ruanda continua, portanto, a ser um tema controverso, dividindo a classe política britânica e suscitando preocupações a nível internacional. O resultado final deste projeto de lei será decisivo para a abordagem do Reino Unido à imigração e ao asilo nos próximos anos.

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